Um estudo divulgado na revista médica Jama Network Open revela uma preocupante associação entre a saúde mental dos médicos e a ocorrência de erros médicos. De acordo com a pesquisadora Karina Pereira Lima, primeira autora do artigo publicado em novembro de 2019, médicos com sintomas depressivos têm 95% mais chances de relatar erros médicos em comparação com colegas que não apresentam esses sintomas.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores realizaram uma revisão sistemática da literatura médica sobre a relação entre a saúde mental dos profissionais e os erros médicos. A pesquisa foi desenvolvida durante um estágio de Karina na Escola de Medicina da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, enquanto ela estava no doutorado do programa de Saúde Mental da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP.
Os sintomas depressivos mencionados no estudo foram identificados por meio de inventários, que são questionários utilizados para avaliar a saúde mental. Esses inventários ajudam a detectar sintomas como humor deprimido, perda de prazer em atividades, alterações no apetite e no sono, e sentimento de culpa inadequada. No entanto, para diagnosticar depressão clinicamente é necessária uma entrevista com um profissional de saúde mental qualificado.
Mesmo que o médico esteja vivendo uma depressão, erros médicos são erros médicos. “No Brasil, a definição de erro médico é regida por diversos regulamentos e códigos, principalmente pelo Código de Ética Médica e pelo Código Penal. Um erro médico ocorre quando há negligência, imprudência ou imperícia por parte do profissional, resultando em danos ao paciente. Negligência se refere à omissão de medidas necessárias, imprudência é a falta de cautela e imperícia é a falta de conhecimento técnico”, esclarece Thayan Fernando Ferreira, advogado especialista em direito de saúde e direito público.
Thayan, que ainda é membro da comissão de direito médico da OAB-MG e diretor do escritório Ferreira Cruz Advogados, também explica sobre como um médico pode responder judicialmente. “As punições para erros médicos podem variar desde sanções administrativas pelo Conselho Regional de Medicina, como advertências e suspensões, até responsabilidades civis, onde o médico pode ser obrigado a indenizar o paciente. Em casos mais graves, pode haver responsabilização criminal, com penas que incluem a prisão”.
Além de correlacionar sintomas depressivos com a probabilidade de cometer erros médicos, a pesquisa ainda sugere uma relação bidirecional: erros médicos podem causar sintomas depressivos e vice-versa. Dados analisados indicam que médicos que cometeram erros tinham 67% mais chances de desenvolver sintomas depressivos no futuro, enquanto médicos com sintomas depressivos tinham 62% mais chances de cometer erros médicos.
Outra pesquisa, desta vez do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar da UFMG indicam que erros médicos estão entre as principais causas de eventos adversos em hospitais. Os dados apontam que 54.769 pessoas morreram em 2017 devido a eventos adversos graves relacionados à assistência hospitalar, dos quais mais de 36 mil poderiam ter sido prevenidos. Esses números fazem parte do 2º Anuário da Segurança Assistencial Hospitalar no Brasil, que classifica como evento adverso qualquer incidente que resulte em dano ao paciente.
Todavia, quando um erro médico é cometido por um profissional em situação de fragilidade emocional, como sintomas depressivos, a responsabilidade ainda recai sobre o médico. No entanto, a instituição de saúde onde ele atua também tem responsabilidade de fornecer apoio adequado.
“É dever das instituições monitorar a saúde mental de seus profissionais e oferecer suporte, como programas de bem-estar e acesso a cuidados de saúde mental. O reconhecimento e o tratamento precoce dos sintomas depressivos são cruciais para evitar que esses problemas impactem a prática médica e a segurança dos pacientes”, finaliza Thayan.
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ICARO ALISSON ROSA AMBROSIO
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