Donald Trump, em sua campanha para as eleições de 2024, reafirmou sua promessa de realizar uma das maiores deportações em massa da história dos Estados Unidos. Caso ele cumpra sua promessa a partir de janeiro de 2025, Trump pretende declarar emergência nacional e utilizar os militares para remover até 11 milhões de imigrantes indocumentados que vivem no país. A proposta levanta questões sobre as consequências humanas, políticas e sociais desse plano, que transcendem as questões de segurança e migratórias, adentrando o terreno das relações internacionais e da concepção de “inimigo interno”.
A ideia de deportar milhões de imigrantes não é apenas uma questão de políticas de imigração. Ela traz à tona uma compreensão da política de segurança que remonta à teoria política de Carl Schmitt (filósofo, jurista e teórico político alemão, membro do Partido Nazista), especialmente seu conceito de “inimigo interno”. Schmitt, argumentava que, em tempos de crise, o Estado pode tratar certos grupos como inimigos, não porque representem uma ameaça externa, mas porque, dentro do próprio território, seu comportamento, ideologia ou identidade são considerados incompatíveis com a ordem política estabelecida. O “inimigo interno” é, portanto, uma figura que precisa ser excluída do corpo político para que o Estado preserve sua homogeneidade e estabilidade.
Quando analisada a promessa de Trump através dessa perspectiva, os imigrantes indocumentados, em grande parte de origem latino-americana, acabam sendo vistos como sendo esse “inimigo interno”. Afinal, não é de hoje que Donald Trump tem procurado realizar uma associação direta entre imigração ilegal e ameaças tanto à segurança, quanto à economia e a identidade cultural dos Estados Unidos.
Ao realizar esse comparativo, Trump acaba por transformar um problema humanitário em uma questão de guerra, de combate a este inimigo interno que corrompe e ameaça os Estados Unidos. Nesta perspectiva, são negados aos imigrantes indocumentados o direito à dignidade e, até mesmo, ao tratamento humanizado, transformando-os em seres sem direitos.
Deportações em massa ignoram laços familiares, realidades sociais e econômicas, causando marginalização e rompendo famílias que contribuem para os EUA com trabalho e vínculos afetivos. A relação de Trump com a América Latina, por meio de sua promessa de deportação, reflete uma compreensão simplificada e desumanizadora da região. Essa postura não só afeta as relações bilaterais, mas também prejudica a imagem dos Estados Unidos no cenário internacional.
Predomina a percepção de um país que vê seus vizinhos latinos como um problema a ser erradicado, ao invés de como parceiros a serem ouvidos e respeitados, enfraquece as possibilidades de cooperação entre as nações.
*Guilherme Frizzera é doutor em Relações Internacionais e coordenador do curso de Relações Internacionais da Uninter.
**Raíssa Quintino de Paula Xavier é advogada criminalista e Professora na Uninter.
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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