Um estudo realizado pela pesquisadora Dana Kanze, da London Business School, descobriu que vieses ainda impactavam as perguntas de investidores na fase de captação de recursos de startups. Enquanto 67% dos questionamentos feitos a homens traziam perguntas focadas no potencial de crescimento das empresas, 66% das perguntas recebidas por mulheres tinham caráter preventivo, questionando a capacidade delas de lidar com problemas ou crises. Em um cenário no qual as fundadoras receberam apenas 0,4% do capital investido em 2020, segundo dados do Female Founders Report do Distrito, esses vieses ainda têm grande impacto – que não só aumentam as dificuldades de conseguir investimentos, como também evitam o atingimento do potencial total de rentabilidade e crescimento de seus negócios.
Como exemplifica Jaana Goeggel, cofundadora do Sororitê Fund 1, fundo de Venture Capital de R$ 25 milhões para investimentos em startups early stage fundadas ou co-fundadas por mulheres, “no livro ‘Invisible Women’ da Caroline Criado Perez. a autora demonstra como nosso mundo foi construído por homens brancos para homens brancos e os impactos disso na vida das mulheres. Na medicina, até pouco tempo atrás, não era mandatório incluir diferenciais entre mulheres e homens nos testes de novos medicamentos, como resultado, dosagens foram feitas tendo como base homens, mais altos e mais pesados. Nós todos estamos sensibilizados para os sintomas masculinos e a medicina é só um dos inúmeros exemplos dessa aplicação”.
Da mesma forma, o mercado ainda é, muitas vezes, hostil com as mulheres. Nesse cenário, elas não só recebem perguntas que comprometem a busca por investimento, como também não têm suas soluções reconhecidas – porque os problemas que querem resolver são incompreensíveis para a grande parte dos investidores. Nessa mesma conjuntura, até mesmo aquelas que conseguem prosperar, precisam lidar com questionamentos sobre a capacidade de liderança e de gerar retorno e crescimento. Vieses como esse só podem ser mudados por meio de esforços contínuos, seja de incentivo para que mais mulheres se tornem investidoras, ou de mais iniciativas que se voltem para o investimento em mulheres. Ainda, com o aumento do uso da tecnologia, Jaana também vê necessidade cautela com o crescimento da IA. “Os algoritmos se alimentam de dados históricos, e, por consequência, por vieses implícitos nestes dados. Por exemplo, historicamente, grande parcela dos CEOs são homens. Uma IA fazendo recrutamento vai escolher o candidato mais parecido com estes exemplos, salvo se a ferramenta estiver sendo treinada para evitar esses cenários”, completa.
Assim, se não houver diversidade entre as pessoas procurando solucionar problemas da nossa sociedade, o mercado sempre enxergará uma parte limitada dos problemas e as soluções continuarão sendo as mesmas. Para Jaana, “a inovação depende de capital, por isso é importantíssimo ter diversidade não só entre quem as desenvolve – pesquisadores e founders -, mas também entre tomadores de decisões de financiamento, seja em órgãos públicos, dentro das grandes empresas ou em fundos de venture capital”, finaliza.
Sobre o Sororitê Fund 1:
Comandado por Erica Fridman e Jaana Goeggel, o Sororitê Fund 1 é um fundo de Venture Capital Early Stage de R$ 25 milhões com foco em startups fundadas por times diversos. Assim, o fundo é um dos poucos no Brasil liderados por mulheres que buscam investir em mulheres. Para os próximos 12 meses, a meta é realizar os primeiros cinco investimentos. A tese é investir em startups que tenham pelo menos uma mulher no time de fundadoras, com base tecnológica e um grande potencial de escalabilidade com interesse, principalmente, nas verticais de fintech, healthtech, agritech e retailtech. Para mais informações, acesse o site.
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MARIA FERNANDA SOUZA PETRIZZO
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