Os produtores de milho de Mato Grosso enfrentam um cenário provocador para a safra de 2023/2024. A queda no preço do milho, causada pela grande oferta, obrigou os produtores a recuarem os investimentos para a próxima temporada.
Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) a produção para a safra 2023/24 deve se estabelecer em 43,30 milhões de toneladas. O número é 13,76% menor que a safra de 2022/23 que foi consolidada em 52,54 milhões de toneladas.
De conformidade com o diretor da Associação Brasileira dos Produtores de Milho (Abramilho), Zilto Donadello, o produtor em Mato Grosso está comercializando o milho a R$ 35 por saca para tapulhar os custos da safra. Segundo ele, o número está muito aquém da última safra, quando o preço médio comercializado por saca era de R$ 72.
“Hoje no mercado de R$ 35 a saca, se ele colheu 100 sacas de milho por hectare, 110 sacas, não sei se ele fecha as contas. O produtor está vendendo a conta-gotas, muito bem regrado, tentando buscar um preço melhor no mercado, mas com volume que a gente tem, a gente não sabe se melhora. A exportação do país está muito boa, a gente crê que o Brasil pode chegar uma exportação de 50 milhões de toneladas. Então quem sabe que essa exportação e também a demanda pelo consumo de milho brasileiro melhorem o nosso preço”, afirma.
O diretor ainda destaca que, para a safra 2023/24, o produtor deve se adequar ao número que o mercado aponta e reduzir custos.
“Para a próxima safra o produtor deve ter cautela, fazer conta e se adequar os custos. Só que nessa adequação, o corte de custos vai vir em tecnologia de sementes, materiais com preço menor, vai se diminuir a tecnologia de fertilizante, consequentemente a gente vai acabar usando algum fungicida a menos. Vai acabar se adequando com menos tecnologia e consequentemente, isso vai acarretar numa menor produtividade. Não tem como”, diz.
Ainda segundo o IMEA, a primeira perspectiva de superfície para a safra 2023/24, em Mato Grosso, ficou em 7,28 milhões de hectares, subtracção de 2,81% quando comparado com a safra de 2022/23. Quanto aos rendimentos, a projeção ficou em 103,70 sacas por hectare, redução de 11,27% em relação ao consolidado da safra 2022/23.
Desafios do setor em MT
O cultivo de milho em Mato Grosso é caracterizado pela semeadura entre 20 de janeiro a 20 de fevereiro. Segundo a Abramilho, atualmente o estado cultiva em torno de 5,5 milhões de hectares de milho. O diretor da Abramilho explica que a produção de milho no estado está diretamente ligada à produção de soja.
“É tradicional do produtor mato-grossense fazer soja na primeira safra e milho na segunda. Então, a expansão da área de milho está em cima da área de soja. O crescimento pode acontecer, mas desde que o produtor tenha renda para investir em equipamentos maiores e melhores, para que dê versatilidade no plantio”, explica.
Segundo Donadello, a logística é um dos principais gargalos enfrentados pelo produtor no estado.
“O desafio é logístico. De você retirar essa enorme produção que a gente tem. A gente não pode falar em safra recorde, porque o Mato Grosso em específico, é um estado em crescimento, expansão de área. Então, tem muita área para crescer em soja, muita área para crescer em milho, em áreas de pastagens degradadas, sem falar em conversão de área de floresta para agricultura. Então, a logística hoje é o nosso maior gargalo no estado de Mato Grosso”, diz.