Por Adriana Ramalho
A dupla jornada de trabalho é a combinação de responsabilidades profissionais, domésticas e familiares, que impõe uma carga adicional significativa.
A realidade de muitas mulheres brasileiras envolve um ciclo exaustivo de compromissos profissionais e responsabilidades domésticas. Essa rotina, conhecida como “dupla jornada de trabalho”, tem gerado impactos significativos na saúde mental, levando ao aumento de casos de ansiedade, depressão, estresse e burnout.
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2022, as mulheres dedicam, em média, 21 horas semanais a afazeres domésticos, enquanto os homens gastam cerca de 11 horas. Além disso, elas continuam a desempenhar funções profissionais em igualdade de carga horária. Esse desequilíbrio reforça a sobrecarga física e emocional, criando um cenário propício para o desenvolvimento de transtornos mentais.
O acumulo de responsabilidades pode gerar um sentimento de incapacidade, frustração e exaustão, além de comprometer a autoestima. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mulheres têm uma probabilidade 50% maior de serem diagnosticadas com transtornos de ansiedade e depressão em comparação aos homens, e a sobrecarga de trabalho é um dos fatores associados a essa diferença.
A dupla jornada de trabalho faz com que a mulher perca qualidade de vida , ao sacrificar horas de lazer, de autocuidado e de qualificação profissional.
Durante a pandemia de COVID-19, a situação se agravou. Com o trabalho remoto, muitas mulheres precisaram equilibrar a demanda profissional com o cuidado dos filhos e o ensino remoto. Um estudo da ONU Mulheres apontou que, em 2021, 66% das mulheres relataram aumento significativo nas responsabilidades domésticas e na carga mental.
No ambiente de trabalho mulheres enfrentam uma série de desafios que podem afetar a saúde mental. As demandas profissionais e as responsabilidades domésticas, somada à discriminação de gênero, expõe as mulheres a um risco maior de burnout. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha, 68% das mulheres brasileiras entrevistadas disseram se sentir sobrecarregadas com o trabalho durante a pandemia A falta de representação em cargos de liderança e a cultura organizacional muitas vezes hostil agravam esse cenário.
Políticas Públicas e Soluções
Especialistas apontam que políticas públicas são fundamentais para enfrentar esse problema. Licenças parentais ampliadas, creches acessíveis e a promoção de uma divisão mais equitativa das tarefas domésticas podem aliviar a carga mental das mulheres. Além disso, programas de saúde mental voltados especificamente para elas são indispensáveis.
É necessário conscientizar sobre a importância de uma divisão mais justa das responsabilidades domésticas, tanto dentro das famílias quanto no âmbito social.
Nos últimos anos, a discussão sobre saúde mental e equidade de gênero tem ganho força. Campanhas como a “Divida a Conta”, da ONU Mulheres, buscam incentivar os homens a assumir maior participação nas tarefas domésticas, promovendo um ambiente mais equilibrado.
A luta por igualdade vai além de uma questão de justiça social; trata-se de garantir condições para que as mulheres possam viver com saúde e dignidade. Reconhecer o impacto da dupla jornada de trabalho é o primeiro passo para transformar essa realidade.
Conscientização
Buscar saúde do corpo e da mente
Cultivar hábitos saudáveis contribui para uma saúde mental equilibrada. Uma dieta balanceada e a pratica de atividades físicas auxiliarão no alívio da tensão.
Tempo de qualidade, tire um tempo para você, ler um livro, assistir a um filme, fazer algo que você goste e se preciso busque ajuda, recorra ao atendimento psicológico.
Aplicar prioridades
Não tente abraçar o mundo. Procure realizar as tarefas que não podem ser adiadas e de maior importância. Não se desgaste tentando solucionar tudo o que está pendente em apenas um dia. Calendários e quadros de organização de atividades auxiliam muito para não extrapolar durante o dia.
Infelizmente, ainda existe a disparidade entre homens e mulheres em conceitos culturais e sociais. A estabilidade e igualdade pode ser alcançada a partir do diálogo.
A compreensão das necessidades de todos dentro de uma família é uma das melhores formas de encontrar o equilíbrio e manter uma harmonia dentro de casa. Dessa forma,a jornada dupla de trabalho da mulher pode diminuir e até desaparecer, porém isso depende de um esforço conjunto.
Ensinar os filhos a dividir as tarefas domésticas desde cedo é fundamental para construir uma sociedade mais justa e equitativa. Ao envolver os meninos nas atividades do lar, desmistificamos a ideia de que cuidar da casa é responsabilidade exclusiva das mulheres, contribuindo para a quebra de estereótipos de gênero. Essa prática prepara os meninos para a vida adulta, tornando-os homens capazes de assumir responsabilidades domésticas e compartilhar as tarefas com seus parceiros, evitando assim a sobrecarga e a dupla jornada de trabalho que historicamente recai sobre as mulheres. Além disso, essa educação fomenta o desenvolvimento de valores como cooperação, respeito mútuo e senso de comunidade, preparando as futuras gerações para construir relações mais igualitárias e saudáveis.
A valorização do trabalho doméstico é essencial, com tarefas sendo compartilhadas igualmente entre todos os gêneros e membros da família. Além disso, é crucial que os ambientes de trabalho sejam seguros e acolhedores para mulheres, e que as empresas adotem políticas firmes contra o assédio e promovam a saúde mental Diretrizes claras, treinamentos específicos e suporte psicológico são fundamentais.
Referências
· IBGE (2022). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua.
· Organização Mundial da Saúde (OMS). Relatório sobre saúde mental e gênero, 2021.
· ONU Mulheres. Impactos da pandemia na vida das mulheres, 2021.
· “Divida a Conta”. Campanha da ONU Mulheres para a equidade nas tarefas domésticas.
Adriana Ramalho, advogada, política, duas vezes vereadora por São Paulo, palestrante, desde 2015, sobre saúde mental, combate a violência doméstica, alienação parental e empreendedorismo feminino.
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ANA MARIA DE SOUZA LOPES
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