Por Adriana Ramalho
Em um mundo cada vez mais atento à importância da igualdade de gênero, cresce o movimento de homens que se mobilizam ativamente para combater a violência contra a mulher e promover uma sociedade mais justa. Trata-se de uma transformação cultural que reconhece a responsabilidade de todos, independentemente do gênero, na construção de um futuro mais igualitário.
A violência contra a mulher, uma das formas mais graves de desigualdade, ainda é um problema persistente no Brasil e no mundo. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública indicam que, em 2023, foram registrados mais de 60 mil casos de violência doméstica no país. Apesar do protagonismo feminino nessa luta, homens têm se unido a campanhas que buscam erradicar o problema, mostrando que a mudança também depende deles.
Campanhas como o movimento HeForShe, promovido pela ONU Mulheres, têm desempenhado um papel fundamental. A iniciativa convida homens a se comprometerem com a igualdade de gênero e a denunciarem atitudes e comportamentos machistas que perpetuam a violência. “É necessário que os homens percebam que o silêncio também é cumplicidade”, afirma Ricardo Lopes, sociólogo e participante ativo do movimento.
Outra importante campanha envolvida com o tema é a “Laço Branco”, também conhecida como o movimento de homens pelo fim da violência contra as mulheres, é uma iniciativa global que busca envolver os homens no combate à violência de gênero. Lançada em 1991 no Canadá, após o massacre de 14 mulheres na Escola Politécnica de Montreal por um homem misógino, a campanha se consolidou como um chamado à conscientização masculina sobre seu papel no enfrentamento à desigualdade de gênero.
No Brasil, a campanha é organizada em torno do Dia Nacional de Mobilização dos Homens pelo Fim da Violência contra as Mulheres, celebrado em 6 de dezembro. A ideia central é engajar homens e meninos na desconstrução de padrões culturais que perpetuam comportamentos abusivos e machistas, promovendo uma cultura de respeito e igualdade.
Outro aspecto essencial dessa mobilização é o combate às desigualdades que se manifestam no mercado de trabalho, na educação e na política. Enquanto as mulheres ocupam apenas 18% das cadeiras na Câmara dos Deputados, muitos homens têm levantado a bandeira da equidade como uma questão de justiça social.
Empresas e organizações têm adotado políticas que incentivam a inclusão e capacitação de mulheres em setores majoritariamente masculinos, como ciência, tecnologia e construção civil. Precisamos quebrar as barreiras que historicamente afastaram as mulheres de espaços de poder e decisão. Mas o apoio à participação feminina na sociedade vai além de medidas institucionais e exige mudanças no cotidiano. Nas famílias, a divisão igualitária de tarefas domésticas e o cuidado com os filhos são passos fundamentais para aliviar a sobrecarga que recai sobre as mulheres.
Homens têm usado suas plataformas para defender a maior participação feminina em espaços de decisão, têm defendido o tema nos mais diferentes espaços, se sensibilizado sobre o impacto da violência de gênero e suas responsabilidades como agentes de transformação.
Essa participação masculina não é só importante como essencial para a ampliação do debate, desmistificando a ideia de que o combate à violência de gênero é exclusivamente uma pauta feminina, para a redução de estigmas, incentivando homens a questionarem normas de masculinidade tóxica, promovendo comportamentos mais saudáveis e equitativos, além do impacto educativo, com ações em escolas, empresas e comunidades, atuamos na raiz do problema ao abordar questões estruturais, como machismo e desigualdade.
Apesar de suas intenções positivas, enfrentamos muitos desafios, como a superficialidade de alguns engajamentos, muitos homens participam apenas para “cumprir tabela”, sem internalizar as mudanças necessárias em suas atitudes, resistências culturais, algumas sociedades ainda enfrentam barreiras significativas para aceitar a ideia de que homens devem se engajar ativamente nesse debate, o protagonismo indevido, que em alguns casos, homens envolvidos no movimento acabam assumindo o protagonismo, ofuscando a liderança das mulheres na luta pela igualdade de gênero e o uso político oportunista, políticos e figuras públicas muitas vezes usam o tema para melhorar sua imagem, sem compromissos reais com a causa.
É preciso informar, orientar, direcionar sobre como é dar voz e vez e apoiar a causa. Muitos homens, especialmente em períodos eleitorais, adotam discursos de apoio à igualdade de gênero para conquistar o voto feminino e melhorar sua imagem pública. Embora isso possa parecer um avanço, muitas vezes a prática não se traduz em ações concretas. Políticos que defendem publicamente a campanha, às vezes, mantêm posturas contrárias a políticas públicas para mulheres, como o combate à violência doméstica ou a igualdade salarial. Sem indicadores claros de compromisso, fica difícil diferenciar quem realmente apoia a causa de quem apenas a utiliza como ferramenta de marketing.
Ao apoiar a pauta é preciso dar voz à mulher, trabalhar em conjunto, desenvolver projetos conjuntamente, não há como falar delas, sem elas.
Para tornar mais eficaz a mobilização e impacto social positivo é preciso exigir ações concretas:
1. Cobrar de líderes e organizações compromissos tangíveis, como aprovação de leis e financiamento de políticas públicas voltadas à igualdade de gênero.
2. Fortalecer a liderança feminina: Garantir que as mulheres permaneçam no centro das discussões e decisões, mesmo em iniciativas que engajem os homens.
3. Educar de forma contínua: Promover campanhas permanentes de conscientização para combater a cultura machista desde a infância.
Embora haja muito a ser feito, os avanços são inegáveis. Com cada vez mais homens se unindo à causa, o impacto positivo se torna evidente. Programas de conscientização em escolas e empresas, além de campanhas nacionais e internacionais, mostram que a transformação é possível.
O compromisso masculino com a causa é um poderoso aliado na luta pela igualdade de gênero. Somente com ações conjuntas, homens e mulheres poderão construir uma sociedade em que a violência, a desigualdade e o preconceito sejam apenas lembranças de um passado superado.
Adriana Ramalho
Formada em Direito, política (vereadora em SP 2016/2020), ativista social e palestrante sobre combate a violência doméstica, alienação parental, empreendedorismo feminino, e saúde mental.
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ANA MARIA DE SOUZA LOPES
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