As Olímpiadas de Paris 2024 mal chegaram ao fim e já deixaram milhões de telespectadores e amantes dos esportes com os corações cheios de saudade. Foram três semanas de muitas emoções e verdadeiros espetáculos nas mais diversas arenas esportivas. O evento nos trouxe três importantes reflexões: o binômio expectativa x realidade, a supremacia feminina no quadro de medalhas do Brasil e os pedidos de desculpa de atletas que não chegaram ao pódio.
Das cinco medalhas de ouro projetadas pelos especialistas esportivos, apenas uma se confirmou em Paris com Ana Patrícia e Duda no vôlei de areia. As outras quatro previsões subiram ao pódio, mas com medalhas de bronze: Rayssa Leal no skate, Gabriel Medina no surfe, Alisson dos Santos no atletismo e Beatriz Ferreira no boxe. Além disso, a expectativa era a quebra do recorde de 21 medalhas obtido na Rio 2016 e Tóquio 2020/2021, mas encerramos a participação com um total de 20 medalhas. Qual a realidade que precisamos enxergar por trás desta expectativa frustrada?
De acordo com o IREE – Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa –, nos últimos vinte anos o Brasil investiu R$ 43,4 bilhões nos esportes olímpicos, com o governo sendo o principal patrocinador dos atletas no país. A quantia parece bem significativa, mas o principal problema é que esta verba só chega aos atletas já consagrados, vinda de quatro programas: Lei das Loterias, Bolsa Atleta, Lei de Incentivo ao Esporte e Programa Atletas de Alto Rendimento. Não há investimentos na base e o investimento privado em atletas é muito baixo e é aí que se forma o grande abismo que existe entre Brasil e Estados Unidos – mais uma vez o grande campeão geral das Olimpíadas.
Ao longo da história, os Estados Unidos conquistaram mais de 2.600 medalhas olímpicas, estabelecendo uma diferença de mil medalhas para o segundo colocado. O caminho para essa esmagadora vantagem começa no investimento em escolas e universidades, onde são construídos os heróis do esporte americano. Todas as universidades americanas contam com programas esportivos e algumas chegam a ter 40 programas diferentes para fomentação do esporte no ensino universitário. Além disso, as equipes esportivas são frequentemente patrocinadas por grandes empresas, que investem muito dinheiro na promoção dos atletas, o que se soma aos investimentos governamentais e às políticas públicas de incentivo ao esporte.
No Brasil, a formação de atletas é geralmente feita por meio de poucos clubes esportivos ou escolinhas privadas, que são menos acessíveis para as famílias de baixa renda. Mesmo contra todas as adversidades e ainda lutando contra a diferença de gênero – meninas são menos incentivadas à prática de esportes e iniciam mais tarde –, as mulheres atletas do Brasil brilharam em Paris 2024. Pela primeira vez na história, a delegação brasileira chegou às Olimpíadas com mais mulheres do que homens: dos 277 atletas classificados, 154 foram mulheres, 55% do número total, e 123 foram homens. Além disso, 12 das nossas 20 medalhas vieram do suor destas guerreiras, incluindo nossos 3 ouros com Rebeca Andrade na ginástica artística, Bia Souza no judô e Ana Patrícia e Duda no vôlei de areia. Tivemos ainda uma 13ª medalha que, apesar de ser conquistada na equipe mista de judô, veio pelas mãos de Rafaela Silva na luta desempate. Uma supremacia feminina que marca a história dos esportes e, talvez, sirva para mudar o olhar de investidores e críticos.
A campanha brasileira em Paris 2024 ainda ficou marcada pelos pedidos de desculpas, entre lágrimas, de alguns de nossos heróis por não conquistarem a sonhada medalha. Não se desculpem, pois somos nós, a imensa nação brasileira, que sentimos muito. Sentimos muito por terem tido que lutar tão bravamente e passar por tantas dificuldades, sem terem o incentivo e apoio que merecem. Sentimos muito pelas críticas sem fundamentos e pelas cobranças excessivas, sem entregar nada em troca. Sentimos muito por ser tão difícil escolher seguir a linda profissão de atleta no Brasil.
A vocês, atletas brasileiros, apenas a nossa reverência e os nossos mais sinceros aplausos. Obrigada por nos proporcionarem as três melhores semanas do ano. Obrigada por fazerem nossos corações baterem mais forte a cada disputa e por nos unirem na torcida por cada ponto. Que venha Los Angeles 2028! Já estamos na expectativa pelas novas conquistas!
(*) Fernanda Letícia de Souza é Especialista em Fisiologia do Exercício e Prescrição do Exercício Físico e professora da Área de Linguagens Cultural e Corporal do Centro Universitário Internacional UNINTER.
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VALQUIRIA CRISTINA DA SILVA
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