Entrevista – Ramalho da Construção
Perfil
Antonio de Sousa Ramalho, o Ramalho da Construção nasceu no coração do sertão da Paraíba, em uma família numerosa com dez irmãos, começou a trabalhar na roça aos oito anos de idade, para ajudar no sustento dos irmãos menores.
Aos 19 anos o menino que cresceu em meio à paisagem árida, onde a seca castigava e a pobreza era uma constante, tendo visto de perto o sofrimento de sua família e do seu povo, lutando diariamente para sobreviver – com coragem e determinação, se despediu da mãe, levando consigo apenas uma mochila e a vontade de mudar sua história.
Ramalho da Construção chegou à “cidade grande” com um sonho na mala e uma determinação inabalável. Sem nada além da coragem e da esperança, foi trabalhar na construção civil como servente nos tempos duros da ditadura.
Em 1990 vinculou-se ao meio sindical, e em 1998 se tornou presidente do Sintracon – SP e começou uma autêntica revolução no sindicato.
Ramalho levou o Sintracon/SP – Sindicato dos Trabalhadores nas Industrias da Construção Civil de São Paulo, para novas relações entre capital e trabalho e se tornou uma referência de liderança no movimento sindical.
Entrevista
Quem é o Ramalho da Construção?
Eu nasci no sertão da Paraíba, comecei a trabalhar na roça aos 8 anos de idade, muitas vezes só para poder comer. Filho de Dona Josefa, uma nordestina forte e guerreira, que criou os filhos praticamente sozinha, com muita necessidade, mas rodeada de amor. Desde menino sempre sonhei com uma vida diferente daquela que conhecia, sair do sertão e conquistar meus sonhos na cidade de São Paulo, onde acreditava que as oportunidades floresceriam.
Um jovem que veio do sertão da Paraíba, transformou desafios em oportunidades e a cada prédio que eu ajudava a levantar eu construía a minha trajetória.
De servente de pedreiro que dormia na obra à presidente de um dos maiores sindicatos de trabalhadores da América Latina, enfim meus sonhos de menino foram realizados. Criei raízes profundas na vida dos trabalhadores como também na vida dos empresários, que tem em mim um aliado na busca das melhores soluções em favor de todos.
Como se deu sua entrada no movimento sindical?
Em 1990 me vinculei ao sindicato e 4 anos depois assumi a 2a Secretaria da Executiva do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon/SP). No mesmo ano, comandei a maior greve da história do setor, foram 16 dias de paralisações que resultaram em vitória, os trabalhadores foram beneficiados com 5% de aumento de salário, pagamento dos dias parados e estabilidade de 90 dias para os grevistas.
Em 1995 participei também das negociações para renovação da NR 18 (Norma Regulamentadora), que deu direitos, como alojamentos dignos, e equipamentos previstos por lei, além disso, o índice de acidentes e mortes no ambiente de trabalho baixou significativamente.
Meu trabalho em prol da categoria estava apenas começando, nesse mesmo período me tornei Vice-Presidente da Força Sindical. E em 1998 com 95% dos votos me tornei presidente do Sintracon – SP e comecei uma autêntica revolução no sindicato.
Quais foram as conquistas dos trabalhadores da construção civil com o Ramalho da Construção à frente do Sintracon/SP?
Criei o sindicalismo cidadão, que une embates trabalhistas e sociais, e atenta às demandas coletivas e melhorias da qualidade de vida, como lazer, cultura, qualificação, saúde e muito mais. Como presidente lutei incansavelmente por benefícios e pelo bom relacionamento com empregadores para viabilizar melhores condições de trabalho.
Milhares de trabalhadores foram beneficiados por melhores condições e com direitos conquistados, entre eles: 60% de hora extra, ajuste anual de salário, cesta básica, atendimento médico, seguro de vida, entre outros benefícios.
Do sindicalismo à política, como se deu esse movimento?
Senti a vontade de fazer mais por aqueles que precisam, e buscar por avanços significativos para as comunidades, facilitando acesso à melhorias sociais como água, esgoto, creches, escolas, canalização de córregos, segurança e saúde, em 2010 me candidatei a deputado estadual e com mais de 63 mil votos assumi a primeira suplência, sendo conduzido a cadeira de Deputado Estadual em 2013.
No ano de 2014, com mais de 80 mil votos, fui eleito ao cargo de deputado estadual. Como deputado por dois mandatos, apresentei inúmeras proposituras que transformaram vidas e melhoraram nossa cidade.
Propus 214 emendas voltadas a segmentos diversos: como reforma de unidades hospitalares e aquisição de ambulâncias, pavimentação de ruas, investimentos em educação e agricultura, entre outros.
Propus 27 projetos de lei, e onze deles se tornaram legislação no estado de São Paulo. Minha trajetória na vida pública demonstra meu compromisso e dedicação aos empregados na luta em prol dos mais necessitados.
O senhor desempenhou um papel muito relevante na pandemia, mostrando que o Ramalho da Construção não é somente uma liderança sindical dos trabalhadores mas uma liderança importante para todo o setor da Construção Civil, sendo um canal de comunicação com o governo estadual e federal. Pode nos contar um pouco do seu papel frente a pandemia?
Eu realmente tive um papel importante para os trabalhadores, empresários e categorias da classe, garantindo as obras trabalhando sem interrupção, os trabalhadores em segurança com relação à saúde e com a manutenção dos empregos e da renda das famílias de cada um deles, movimentando o setor da economia em volta da construção civil, criando uma cadeia positiva para outros estados que estavam a beira da paralisação.
Eu tive a coragem de assumir essa responsabilidade, como fiz ao longo da vida, e tomar a frente garantindo os trabalhadores trabalhando com segurança, com fiscalização, mantendo empregos e as empresas operando, o que foi importante para a economia da construção civil continuar girando num momento tão difícil
Nos fale sobre o CDN, o projeto que é destinado aos nordestinos.
Em 2023 fundei o CDN (Centro Democrático Nordestino), criado para representar e fortalecer as vozes do povo do Norte e Nordeste brasileiro que contribuíram para São Paulo. Com o objetivo de preservar a cultura e história, fornecendo apoio em várias áreas, como orientação profissional, requalificação, habitação e mais.
O CDN mostra a importância de se ter políticas públicas para valorização e inclusão dos nordestinos em São Paulo.
Hoje aos 75 anos e uma vida de lutas e muitas conquistas, quais são ainda os projetos do Ramalho da Construção?
Hoje licenciado do Sintracon, eu sonho com uma São Paulo mais plural, diversa e justa: com empregabilidade, mobilidade, moradia, educação e repleta de oportunidades para todos.
Olhar São Paulo com olhos sensíveis para os menos favorecidos e aqueles que não tem voz é o que me move agora.
Tenho uma vida pública de compromisso com as causas do povo, tanto no sindicato como na política construi minha trajetória com determinação e coragem. E ainda continuo pronto para a luta, com a força que eu trouxe do sertão e a determinação de quem acredita no futuro da cidade de São Paulo.
Com uma vida construída em São Paulo, pai de 5 filhos e netos e um empresário bem sucedido, estou pronto para dar mais um passo e levar minha experiência, dedicação e amor pela cidade de São Paulo à ser o representante do povo, ser sua voz para legislar, fiscalizar e representar suas demandas, lutar pelos seus direitos.
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ANA MARIA DE SOUZA LOPES
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