A Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC) promoveu um encontro entre presidentes, diretores, gestores, educadores e representantes da Igreja, para receber o Cardeal José Tolentino de Mendonça, Prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação do Vaticano (ministro da educação da Santa Sé).
O evento, em parceria com a Arquidiocese de São Paulo, foi realizado na Faculdade Santa Marcelina, em São Paulo, e promoveu discussões sobre o papel da educação católica em tempos de modernização, crise e transformação. Estiveram presentes autoridades eclesiásticas, presidentes, diretores, gestores, reitores, pró-reitores da educação superior e básica, irmãos, irmãs e sacerdotes.
A abertura do evento foi marcada com uma apresentação musical do Coral de alunos do Colégio Santa Marcelina e o discurso da Irmã Maria Aparecida Matias de Oliveira, diretora-geral da Faculdade Santa Marcelina e membro do Conselho Superior da ANEC. Ela destacou a importância da união da missão educativa, frente aos obstáculos.
“Sabemos que vivemos tempos desafiadores para a educação católica em nosso país e no mundo, mas sustentados pela fé e firmes na esperança, apoiados e motivados, pelo exemplo de pessoas corajosas, sábias, como nesta tarde, não tenho dúvidas de que seremos fortalecidos e encorajados no nosso dia a dia na missão educativa e seguiremos com alegria e entusiasmados, na certeza de que o Senhor está conosco. Portanto, não estamos sozinhos”, disse a Ir. Maria Aparecida.
Em seguida, o Pe. João Batista, Diretor-presidente da ANEC, falou sobre a missão da educação católica. “Nos tempos atuais, o Papa Francisco, por meio de documentos como Laudato Si, Fratelli Tutti e o Pacto Educativo Global, tanto tem insistido para que sejamos instrumentos de mudança nas estruturas sociais, nos modelos econômicos, nas lideranças políticas e do projeto educacional para uma nova consciência econômica, psicológica e socioambiental”, afirma.
O Pe. João Batista ainda destaca que tudo isso só é possível por meio da união de esforços e da sinodalidade — termo utilizado pelo Papa Francisco para motivar o espírito de unidade do povo cristão. “Essa realidade é muito presente na orientação geral dos trabalhos da CNBB, da CRB e também da ANEC, que, desde a sua fundação como entidade de representação das escolas e universidades católicas, se preocupa muito com a inclusão social”, ressalta.
As escolas católicas brasileiras como um espaço de comunhão
O Cardeal Dom Tolentino iniciou sua fala demonstrando sua gratidão pela presença de todos, mas principalmente pelo trabalho realizado na educação católica brasileira. “Esta diversidade, que já foi aqui enunciada, representa verdadeiramente o espírito de educação católica, enriquecida com o vosso sonho, a vossa doação, mas também com a vossa capacidade de inovar, de criar, de acompanhar os tempos, de pensar os problemas pedagógicos e de encontrar novas soluções.”
Outro ponto alto do evento foi a reflexão sobre o papel das escolas católicas como espaços de esperança e confiança. “[As escolas católicas] têm que ser feitas de mulheres e homens que correm o risco da confiança. Porque a esperança quer dizer abraçar o risco de confiar”, destacou Dom Tolentino, reforçando o papel fundamental que a educação desempenha na formação de pessoas comprometidas com o bem comum.
Neste mesmo sentido, ele reforçou a importância da união entre as escolas católicas: “As escolas entre si, as escolas católicas têm de se apoiar. Temos de aprender uns com os outros. E isso só acontece quando nós paramos para nos ouvir, para nos escutar. Quando somos hospitaleiros, quando acolhemos aquilo que o outro pode dar.”
Inovação e tecnologia na Educação Católica
Segundo o Cardeal, a escola é uma espécie de antena para transformações sociais, de maneira que os obstáculos lá chegam primeiro e são mais delicados. Ele cita, por exemplo, o processo de digitalização da sociedade e a chegada de tecnologias, como a inteligência artificial. “Sem dúvida, a tecnologia e tantos dispositivos mecânicos podem ser colocados a serviço da vida. Contudo, o projeto da educação, e não abdicamos disso, é um projeto que tem no centro a pessoa humana, com uma visão integral dessa pessoa.”
Ele afirma que, hoje, nas escolas, o impacto da tecnologia na humanidade pode ser, em muitos aspectos, enriquecedor, mas em outros, empobrecedor: “nas relações, na maturação da inteligência dos jovens e nos conteúdos, que retiram muitas vezes a curiosidade, o grande motor da inteligência humana”. Por isso, ele afirma ser necessária uma reflexão aberta, sem preconceitos sobre o assunto.
A partir disso, ele incentiva os educadores a enfrentarem as grandes questões contemporâneas com ousadia e criatividade. “Não tenhamos medo do futuro”, disse o Cardeal. “Este é um tempo de abalo, de transformação, também de crise, mas é, sobretudo, um tempo de imaginação, de criar novos cenários e paradigmas, contribuindo, como diz o Papa Francisco, para encontrar novas racionalidades, também no campo educativo”.
O papel das escolas católicas na formação da sociedade
Ao falar sobre o papel pastoral das instituições católicas, o Cardeal cita a importância da escola ser um local de transmissão de experiência, dos valores, da alegria de acreditar, visando sempre potencializar a pessoa humana. Dessa forma, não basta que a escola se limite a gerar bons técnicos ou bons especialistas.
“A escola tem de gerar pessoas maduras, responsáveis, equilibradas, com uma visão integral da vida, que sabem que são corpo e espírito, que são o presente e o futuro, que são o instante e a eternidade, que são as funções e os afetos, que são o eu e o nós. Esta costura do ser humano é uma tarefa que nós, escolas católicas, somos chamados a abraçar muito particularmente. Com sentido muito grande de responsabilidade pelos bens naturais e pela Casa Comum”, ressalta.
Em um momento inspirador, o Cardeal fechou seu discurso com uma metáfora para descrever as escolas católicas: “deveria ser escrito na porta de uma escola: ‘Sala de Parto’, porque é um lugar para promover o nascimento de pessoas. Mas também poderia se escrever ‘Sala de Voo’, porque é um lugar para aprender a voar, e ainda ‘Casa da Fraternidade’, porque é o lugar onde experimentamos a beleza inapagável de ter irmãos, de ser irmão”.
Após a sessão de perguntas e respostas, Dom Odilo Scherer, Arcebispo de São Paulo, se pronunciou sobre como devemos usar a imaginação e refletir sobre os projetos educativos. “Precisamos nos perguntar o que ainda podemos fazer, o que já fazemos, como podemos fazer diferente e como podemos abraçar o novo projeto educativo global que o Papa Francisco está pedindo. Um novo, renovado projeto educativo global como parte de uma proposta justamente de antropologia cristã, divisão cristã da pessoa humana, do mundo, da convivência social, e nisso a Escola Católica tem muito a contribuir”, destacou.
Pe. João Batista também ressaltou a importância do encontro. “A presença do Cardeal Tolentino entre nós é uma forma de escrevermos juntos um capítulo importantíssimo da história da educação brasileira. Este é um momento de extrema importância para todos nós que trabalhamos diariamente para o fortalecimento da educação católica que, além do compromisso com a formação cidadã e os valores cristãos, atua na disseminação da doutrina social da Igreja.”
Sobre a ANEC
A Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC) é uma entidade sem fins lucrativos, de caráter educacional e cultural, representante da Educação Católica no Brasil, e reunida em comunhão de valores com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB).
A instituição atua em favor de uma educação de excelência para promover uma educação cristã entendida como aquela que visa à formação integral da pessoa humana, sujeito e agente de construção de uma sociedade justa, fraterna, solidária e pacífica, segundo o Evangelho e o ensinamento social da Igreja.
A ANEC atua em 900 municípios do Brasil, realiza 172 obras sociais e tem como associadas 1050 escolas, que incluem Creche, Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio, e 83 instituições de Ensino Superior, que atendem a mais de 1,5 milhão de alunos, além de 353 mantenedoras.
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GIOVANA PIGNATI
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