“Escolha um trabalho que você ame e não terá que trabalhar um único dia em sua vida” é uma versão de um pensamento atribuído a Confúcio, professor e filósofo chines, que tem levado a variadas reflexões. A frase sugere que, se você é apaixonado pelo seu trabalho, ele não parecerá trabalho, implicando uma mistura perfeita de prazer e produtividade. Embora essa ideia seja atraente, ela pode ser enganosa e potencialmente prejudicial, especialmente para as novas gerações, por várias razões. A Dra.Karina Chernacov, psicóloga especializada no tratamento de pessoas vítimas de trauma, é também mediadora familiar da suprema corte na Flórida nos Estados Unidos, fala sobre ilusão do trabalho perfeito.
Primeiro porque ela cria a romantização do trabalho, levando indivíduos a terem expectativas irreais sobre suas carreiras. Sugere que existe um emprego perfeito onde o estresse, os desafios e as tarefas rotineiras não existem. Isso pode preparar as pessoas para a decepção quando enfrentam as inevitáveis dificuldades e aspectos monótonos de qualquer trabalho.
Também leva os românticos, jovens, ou iniciantes no mercado e no mundo do trabalho a ignorarem as realidades do que significa trabalhar. Todos os empregos, mesmo aqueles pelos quais somos apaixonados, têm aspectos que são tediosos, estressantes ou insatisfatórios. Acreditar que amar o trabalho eliminará esses elementos pode causar frustração e desilusão. Isso ignora a natureza complexa do trabalho, que inclui prazos, política no local de trabalho e a necessidade de realizar tarefas que nem sempre se alinham com as nossas paixões.
Além disso, existe uma certa pressão para se encontrar o emprego perfeito, que pode levar à ansiedade e a uma sensação de fracasso caso não se identifique imediatamente um trabalho assim. Essa pressão também pode fazer com que as pessoas subestimem ou negligenciem empregos que podem não ser um ajuste perfeito inicialmente, mas que têm o potencial de se tornar gratificantes com o tempo e o crescimento.
E com relação a encontrar o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, essa noção pode confundir os limites, pois a satisfação do trabalho, pode levar à negligência do tempo pessoal, hobbies e relacionamentos. Esse desequilíbrio pode resultar em esgotamento e falta de realização em outras áreas da vida, à medida que a identidade da pessoa se torna excessivamente ligada ao seu papel profissional.
Outro fato relevante é que alguns empregadores podem explorar essa ideia e acabam promovendo uma cultura que espera que os funcionários se dediquem além do necessário porque “amam” seu trabalho. Isso pode justificar horas excessivas de trabalho e diminuir a importância de uma remuneração justa e condições de trabalho razoáveis.
Considerando que interesses e paixões estão também em constante evolução, um emprego que alguém ama hoje pode não permanecer tão gratificante no futuro. A frase de “Confúcio” não leva em consideração a natureza dinâmica dos interesses humanos e a necessidade de mudança e crescimento ao longo da carreira.
Segundo a Dra.Karina Chernacov,, buscar constantemente a paixão no trabalho pode levar à negligência de outros aspectos da vida que contribuem para o bem-estar geral. Pode resultar em uma abordagem de trabalho que consome tudo, deixando de lado o autocuidado, o lazer e as conexões sociais. Quando o trabalho se torna a principal fonte de identidade e realização, contratempos e falhas no trabalho podem ter um impacto negativo mais profundo na saúde mental de uma pessoa.
Embora encontrar paixão no trabalho seja desejável, a frase “quando você ama o que faz, nunca trabalha um dia na sua vida” simplifica demais a natureza do trabalho e pode criar expectativas irreais. Uma perspectiva mais equilibrada reconhece o valor da paixão no trabalho, enquanto também reconhece a importância do equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, remuneração justa e os desafios inevitáveis que acompanham qualquer emprego.
Para o bem-estar geral, para a saúde mental quando se pensa em prazer e produtividade é importante saber que trabalhar com o que se gosta pode ser incrível, mas nem sempre a vida nos dá essa chance. Saber o valor de “ligar para a saúde”, das pausas, das férias e dos momentos com a família e os amigos. Saber que a rotina carece de limites, em síntese o trabalho enobrece e enriquece. Ser o melhor é louvável, contanto que não seja negligenciada outras áreas da vida pois o equilíbrio delas garante uma vida mais satisfatória.
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Samantha di Khali Comunica
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