A esquerda brasileira, após chegar ao poder em 2002, falhou em se consolidar como projeto de país. Limitada pelo cálculo utilitário, não conseguiu usá-lo para promover bem-estar social. Ironicamente, como dizia Marx sobre o capitalismo gerar seu próprio fim, foi a própria esquerda que, nas urnas, perdeu o apoio da classe trabalhadora.
Num país onde Guilherme Boulos é a exponencia de uma ‘renovação’ e um presságio de futuro a linha de pensamento filosófico e econômico que deveria pensar o social, é uma piada pronta, que nem Os Trapalhões em seu período áureo conseguiriam tornar esquete. As urnas falam, e não porque o outro candidato era o mais capacitado, e sim, porque entre os males, aparentemente, os paulistanos acreditaram ser o menor.
As teorias de esquerda defendem a redistribuição de riqueza e a redução das desigualdades, algo crucial em um país onde poucos concentram tanto. Como observa o sociólogo Jessé de Souza, os beneficiários do Bolsa Família buscam alternativas, como apostas e figuras como Pablo Marçal, que prometem prosperidade. As pessoas querem uma vida digna, mas o sistema capitalista impõe barreiras ilusórias.
A esquerda se perdeu, pois, ao ‘adentrar’ ao sistema político como governo, agiu como governo liberal, aliás, por incrível que pareça, no Brasil foi em um governo de esquerda que os bancos tiveram lucros exorbitantes e tivemos as primeiras empresas nacionais com valor de mercado na casa de bilhões. Enquanto isso, centenas de milhares passam necessidade sem ao menos conseguir ter uma refeição decente. É a boa e velha mais-valia apresentando a sua pior face.
Mesmo que a crescente desigualdade de renda e riqueza em muitos países, exacerbada pela globalização e pela automatização, tem gerado tensões sociais e questionamentos sobre a justiça do sistema capitalista, este ainda segue firme e forte, representando o status quo e se mantendo com o discurso do extremismo, da extrema direita, onde o livre mercado pode tudo, e a mudança do ‘mindset’ é questão de um simples piscar de olhos.
‘Nunca antes’ na história desse país, a esquerda, como disse o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, ficou tanto tempo na Z4 (zona de rebaixamento do campeonato brasileiro), e sendo ela a própria responsável por não ecoar a voz das ruas, permanecendo próxima das vantagens oficiais. Os partidos de esquerda se apequenaram, não entregaram a promessa de dias melhores, e quando o fizeram, ocorreu porque era uma ‘marolinha’ de bonança no mundo, o que não vemos mais hoje em dia.
Dessa forma, quando o governo, que se identifica como “de esquerda,” adere a práticas neoliberais e falha em criar políticas verdadeiramente emancipatórias, arrisca fortalecer o sistema que deveria transformar. Em vez de desafiar o sistema, age como um agente de sua continuidade. Ao se afastar das “massas,” perde a capacidade de se tornar o partido da classe trabalhadora, tornando-se, mais próximo da “Z4” da política.
O que me alegra saber é que a história não segue um caminho linear de progressão e sucesso, mas é dialética, sempre movida por contradições. A esquerda no Brasil — ou em qualquer lugar — precisará reconhecer a importância de retomar o trabalho de base, de maneira a entender e responder às reais necessidades do povo, infelizmente, não vejo bons representantes para tal.
*Elizeu Barroso Alves é doutor em Administração e Coordenador de Cursos de Tecnologia
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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