O sarampo voltou a preocupar autoridades de saúde ao redor do mundo. Somente entre janeiro e maio deste ano, os Estados Unidos confirmaram 1.001 diagnósticos da doença, espalhados por 31 estados. O volume representa mais que o triplo das 285 ocorrências registradas durante todo o ano de 2024, indicando uma escalada preocupante impulsionada por fatores estruturais e comportamentais, segundo dados do CDC – Centers for Disease Control and Prevention, 2025.
“A cobertura vacinal infantil caiu abaixo do limiar de imunidade coletiva, principalmente em comunidades com alta hesitação vacinal. Além disso, a desinformação e os cortes no orçamento da saúde pública contribuíram para reduzir a capacidade de resposta do sistema”, afirma o Dr. Klinger Soares Faíco Filho, infectologista, professor adjunto da UNIFESP e apresentador do podcast InfectoCast, voltado à educação médica.
Segundo os dados mais recentes do CDC, 93% das infecções reportadas em 2025 estiveram associadas a surtos locais (três ou mais pessoas contaminadas em sequência), o que evidencia falhas na contenção e rápida disseminação do vírus. Em 2024, esse índice era de 69%. Crianças e adolescentes são os mais vulneráveis: 30% dos infectados têm menos de cinco anos; 38%, entre 5 e 19 anos; e 31%, são adultos.
Outro ponto alarmante: 96% dos indivíduos acometidos neste ano não estavam vacinados ou não tinham status vacinal conhecido. Apenas 2% haviam recebido uma dose da vacina tríplice viral (MMR), e outros 2% completaram o esquema vacinal. “A ampla maioria das infecções poderia ter sido evitada com uma cobertura imunológica adequada. Isso reforça o papel essencial da vacinação como escudo coletivo”, destaca Dr. Klinger.
A severidade do cenário também se revela no número de internações: 13% das pessoas infectadas precisaram de cuidados hospitalares, totalizando 126 admissões. A faixa etária mais atingida foi a de crianças com menos de cinco anos, que somaram 23% das hospitalizações. Além disso, três mortes por complicações da doença já foram confirmadas em 2025.
“O sarampo é uma enfermidade viral altamente contagiosa e potencialmente grave. Entre as principais complicações estão pneumonia, otite média aguda e encefalite, que podem deixar sequelas permanentes ou levar à morte. Estima-se que uma a cada mil crianças acometidas podem falecer por essas consequências”, explica o especialista.
Para conter novos surtos, é essencial que profissionais da saúde reforcem a verificação do cartão vacinal nas consultas de rotina, promovam ações educativas baseadas em evidências e atuem estrategicamente em comunidades com baixa cobertura. A vacinação antes de viagens internacionais também deve ser estimulada em locais com risco conhecido de transmissão.
Brasil em alerta
No Brasil, o cenário exige atenção redobrada. Apesar da redução no número de registros nos últimos anos, a cobertura vacinal da tríplice viral tem ficado abaixo dos 95% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em diversas regiões do país — especialmente nas periferias urbanas e áreas rurais com difícil acesso a serviços básicos de saúde.
“O surto nos EUA mostra como, mesmo em países com recursos e estrutura, o sarampo pode voltar com força quando a imunização é negligenciada. O Brasil não está imune a isso. Precisamos investir em vigilância ativa, campanhas de conscientização e ampliar o acesso às vacinas em postos fixos e ações itinerantes”, reforça Dr. Klinger.
Além da oferta da vacina, é necessário reconstruir a confiança da população no Programa Nacional de Imunizações. Isso passa pela valorização dos profissionais de saúde da ponta, combate às fake news e fortalecimento do pacto federativo em torno da imunização infantil. Se não houver esforço conjunto, há risco real de ressurgimento em larga escala.
Embora comumente associada à infância, a doença continua sendo um problema de saúde pública que pode afetar indivíduos de todas as idades. “O sarampo é evitável. Mas sua contenção depende de vigilância contínua, cobertura vacinal adequada e engajamento coletivo de profissionais, autoridades e da sociedade”, conclui o especialista.
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PEDRO GABRIEL SENGER BRAGA
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