Em uma região de solo fértil, onde cana-de-açúcar, laranja e borracha predominam como os principais cultivos, o cacau desponta como uma nova oportunidade para os produtores da região noroeste paulista. Além de uma fazenda com uma grande plantação já em produção em Tabapuã, há dezenas de outros produtores com pomares menores, somando cerca de 300 hectares, distribuídos por muitos municípios na região de São José do Rio Preto, que estão vendo agora os frutos de suas lavouras amadurecerem. É chegada a hora da colheita do cacau e imediata fermentação e secagem das amêndoas que poderão ter vários destinos, sendo o principal a produção de chocolate.
Como é uma cultura nova na região, os produtores precisam aprender como beneficiar o cacau para ter um produto de alta qualidade e conseguir o melhor preço possível pelo quilo de amêndoa. Mais uma vez, entram em cena os assistentes agropecuários da CATI, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, responsável por direcionar as melhores técnicas de cultivo para incentivar o plantio da fruta na região, assim como em outras partes do Estado de São Paulo, com o Programa Cacau SP. Esse será o objetivo do Dia de Campo na Unidade de Adaptação Tecnológica do Cacau na Fazenda Fartura, em Adolfo, um plantio já consolidado, realizado hoje (30/01).
“Nossos técnicos demonstraram todo o processo do beneficiamento e armazenamento do cacau, desde a quebra do fruto para extrair as amêndoas, posteriormente o processo de fermentação anaeróbica, que tem duas opções (fermentação em cochos ou em bombonas) e a última etapa da fermentação que é realizada em cochos em ambiente aeróbico. Por fim as amêndoas fermentadas passam pelo processo de secagem”, conta Fernando Miqueletti, que é engenheiro agrônomo e diretor regional da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) de São José do Rio Preto e está à frente da equipe do programa da difusão do cacau.
Para transmitir as melhores técnicas de beneficiamento do cacau, os assistentes agropecuários da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, incluindo Miqueletti, passaram por vários treinamentos em fazendas produtoras de cacau no sul e oeste da Bahia e também em chocolateria artesanal que produz chocolate “bean to bar”, expressão em inglês para “da amêndoa para a barra”.
A Unidade de Adaptação Tecnológica do Cacau da Fazenda Fartura, onde a CATI de Rio Preto conduz uma plantação cacaueira de 1,3 hectare já há três anos, iniciando agora a produção, tem toda a estrutura necessária para o beneficiamento dos frutos: cochos/bombonas e telado suspenso. “As amêndoas ficam de seis a sete dias em cochos fermentando. Nos dois primeiros dias não há movimentação das amêndoas nos cochos ou nas bombonas em função da fermentação ser anaeróbica. A partir do terceiro dia, as amêndoas mudam de cocho diariamente de maneira que as debaixo fiquem em cima e vice-versa para a adequada aeração da massa. Por fim, mais seis ou sete dias de secagem, que fazemos em telado suspenso e coberto para que as amêndoas estejam protegidas dos horários de sol mais intenso, do sereno e da chuva”, detalha Miqueletti.
Para a demonstração do beneficiamento, foi utilizado cacau produzido em uma outra unidade, localizada em José Bonifácio. “Tivemos entre 20 e 30 caixas de cacau pesando cada uma cerca de 20 quilos para reproduzirmos o processo em escala”, acrescenta ele. Pela produção das primeiras safras na região, pode-se dizer que São Paulo tem sim vocação para o cacau. “Nossa produção está acima da média nacional, que é de 300 quilos por hectare na primeira safra, aos 3 anos de idade da planta, em algumas áreas comerciais. Isso é um fato muito importante tendo em vista que a estabilidade de produção da cultura ocorre no sétimo ano”, comemora o diretor da CATI de São José do Rio Preto.
Mas como é viável produzir cacau no quente noroeste paulista?
Décadas atrás, pensavam ser impossível o plantio comercial de cacau na região de São José do Rio Preto. A cultura surgiu para atender uma necessidade de proprietários rurais locais, que plantavam seringueiras e, por volta de 2010, vinham sofrendo com o baixo preço da borracha. Era necessário encontrar outra cultura que pudesse ser trabalhada no cultivo integrado consorciado da seringueira. Então, os assistentes agropecuários da CATI começaram a trabalhar para que o cacaueiro, planta nativa da Amazônia e muito produtiva na Bahia e no Pará, se adaptasse à região de Rio Preto, conhecida por ser quente e seca.
Os assistentes agropecuários visitaram lavouras cacaueiras na Bahia e em outras localidades em busca de conhecimento técnico. Neste processo, iniciaram um frutífero intercâmbio com a Comissão Executiva do Plano Lavoura Cacaueira (Ceplac) do sul da Bahia, cujos técnicos visitaram a região de Rio Preto e avaliaram que havia condições de se produzir cacau nas terras paulistas.
Adaptação
Para adaptar ao clima da região, os assistentes agropecuários escolheram clones de cacaueiros já consagrados em diferentes regiões do Brasil. Em 2019, os clones foram plantados de maneira experimental. Posteriormente, foi implantada a Unidade de Adaptação Tecnológica do Cacau, conduzida pela CATI, em Adolfo. O arranjo de plantio consistiu na instalação de quebra ventos no entorno da área. As seringueiras foram dispostas em filas duplas. Entre as fileiras duplas de seringueira foram instaladas as ruas de bananeira. A função da bananeira é fornecer sombra para o cacaueiro nos seus primeiros anos, simulando em parte as condições da Bahia, que cultiva a planta sob a floresta, sistema conhecido como cabruca.
As mudas de cacau são plantadas entre as bananeiras, quando as mesmas já fornecem um sombreamento adequado, e ficam no sistema em torno de 3 anos. Após este período são retiradas as bananeiras, permanecendo o cacau e a seringueira. Já a seringueira, a cultura que estava deficitária na época, protege o cacaueiro do vento, tornando o ambiente mais confortável. Mas ainda não era o suficiente. Faltava umidade. Foi analisando todas as condições que o cacaueiro requer para se desenvolver que os assistentes agropecuários decidiram que a lavoura seria irrigada. Assim fizeram na plantação experimental e o cacaueiro se desenvolveu bem, começando a produzir três anos depois do plantio, conforme o esperado.
Parcerias
O cultivo de cacau na região de Rio Preto contou com apoio da Associação Comercial de São José do Rio Preto (Acirp) e da Fundação Cargil, que viabilizou a abertura das unidades de adaptação tecnológica da cultura na região de São José do Rio Preto. Os assistentes agropecuários à frente do projeto passaram a fazer palestras em várias regiões do Estado para compartilhar métodos de manejo e a experiência do plantio com proprietários rurais interessados.
Os primeiros plantios comerciais na região de Rio Preto começaram em 2021 e agora já estão iniciando a produção, comprovando que o cacau pode ampliar as possibilidades econômicas da região para atender a crescente demanda do mercado nacional e internacional por cacau de alta qualidade.
Os assistentes agropecuários têm desempenhado um papel fundamental na adaptação do cacaueiro às condições de solo e clima de São Paulo, demonstrando mais uma vez a capacidade técnica e a inovação do setor agropecuário paulista, ressalta Victor Branco de Araujo, presidente da Associação dos Assistentes Agropecuários do Estado de São Paulo (AGROESP). “Nosso trabalho vai além do cultivo: envolve pesquisa, assistência técnica e o apoio direto aos produtores, garantindo sustentabilidade, produtividade e competitividade. O cacau paulista já começa a se destacar, e isso é resultado direto da dedicação e expertise dos nossos profissionais, que têm transformado desafios em oportunidades para o desenvolvimento agrícola de São Paulo”, completa.
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IEDA APARECIDA RODRIGUES
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