Desde o ataque do grupo terrorista Hamas a Israel, em 7 de outubro de 2023, e do conflito que o seguiu, os números da violência e do discurso de ódio contra judeus no Brasil evidenciam uma realidade alarmante. Já em outubro de 2023, primeiro mês do conflito, observou-se um aumento de mais de 1.000% nas denúncias de antissemitismo comparado ao mesmo período no ano anterior. Após 1 ano de conflito, foram registrados quase 2.500 casos de antissemitismo no Brasil, 500% a mais do que no mesmo período do ano anterior, conforme dados levantados pelo Departamento de Segurança Comunitária CONIB/FISESP.
Neste 9 de novembro, Dia Internacional contra o Fascismo e Antissemitismo, a Confederação Israelita do Brasil (CONIB) alerta sobre a gravidade desses números, que revelam um contexto de crescente discriminação traduzido em agressões, apologia ao nazismo, vandalismo entre outras manifestações, contrariando o histórico de respeito, tolerância e convívio pacífico existente no Brasil.
São Paulo e Rio de Janeiro lideram o ranking de casos, com 864 e 239, respectivamente, somente este ano, seguidos de Rio Grande do Sul (92) e Minas Gerais (66).
“Como vimos agora em Amsterdã, o câncer do antissemitismo está se espalhando em várias regiões do mundo conduzido pelo ódio a Israel, o Estado judeu. O antissemitismo sempre se transforma ao longo dos séculos para se adaptar a novos padrões, e ele agora se apresenta como antissionismo. Esse fenômeno ocorre também no Brasil, como vemos na nossa pesquisa. São números que preocupam e demandam ação, mas constatamos também que a imensa maioria dos brasileiros têm apreço pelos judeus e Israel e somos gratos por isso”, declarou o presidente da CONIB, Claudio Lottenberg.
No ambiente digital, a manifestação do discurso de ódio é ainda mais veemente. 73% das denúncias recebidas pelo departamento são de casos que aconteceram no ambiente digital. Nos últimos 12 meses foram contabilizadas quase 6 milhões de menções com teor antissemita nas redes sociais, o X (ex-Twitter) é o principal canal de disseminação do antissemitismo no Brasil (68%), seguido de Facebook (20%). O monitoramento também aponta que declarações de autoridades políticas impulsionam o número de expressões preconceituosas contra Israel e a comunidade judaica nas redes sociais. Falas contundentes que condenam a postura de Israel no conflito têm influência direta no debate público, contribuindo para uma radicalização sem restrições das narrativas sobre a guerra no Oriente Médio no digital.
Articulação para enfrentamento do discurso de ódio
A CONIB gerencia o Canal de Denúncias de antissemitismo, avaliando os indicadores, analisando as denúncias e atuando no encaminhamento aos canais ou às autoridades competentes.
A entidade também está mobilizada para articular junto a autoridades de estados e municípios brasileiros a adesão à Definição Funcional de Antissemitismo da Aliança Internacional para Lembrança do Holocausto (IRHA).
Por essa definição, entende-se que: “o antissemitismo é uma determinada percepção dos judeus, que se pode exprimir como ódio em relação aos judeus. Manifestações retóricas e físicas de antissemitismo são orientadas contra indivíduos judeus e não judeus e/ou contra os seus bens, contra as instituições comunitárias e as instalações religiosas judaicas.” Doze unidades da federação que já adotaram o referencial da IHRA: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Goiás, Roraima, Rondônia, Amazonas, Distrito Federal, Santa Catarina, Mato Grosso e Porto Alegre. A adesão ao documento serve como importante balizador para que governos, autoridades e a sociedade em geral entendam e identifiquem casos de antissemitismo.
Dia Internacional contra o Fascismo e Antissemitismo
Escolhido pelo Parlamento Europeu como o Dia Internacional contra o Fascismo e Antissemitismo, o dia 9 de novembro tem um significado histórico. Nesta data, em 1938, tropas nazistas destruíram casas e estabelecimentos comerciais de judeus, incendiaram sinagogas em várias cidades alemãs e dezenas de judeus foram mortos – um número que pode chegar a mil. No dia seguinte, as ruas estavam cobertas de vidros quebrados, por isso, o episódio passou a ser conhecido como Kristallnacht – “Noite dos Cristais Quebrados”.
A partir de então, milhões foram torturados, mortos ou deportados para campos de concentração. O episódio marcou o início do Holocausto, que causou a morte de seis milhões de judeus na Europa até o final da Segunda Guerra Mundial.
Sobre a CONIB
A Confederação Israelita do Brasil (CONIB) representa a comunidade judaica brasileira e atua, desde sua fundação, em 1948, na defesa de valores e princípios como paz, democracia, justiça social, diálogo inter-religioso e combate à intolerância, ao antissemitismo, ao discurso de ódio e ao terrorismo. Por ser apartidária, a Conib defende a pluralidade da comunidade judaica, o diálogo democrático e construtivo e busca construir pontes que levem à convergência e à paz.
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