A expectativa em relação à decisão da nova taxa de juros e ao conteúdo do comunicado pós-decisão da reunião desta semana do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (Bacen) não é uniforme no mercado. Há uma divisão em relação aos próximos passos da política monetária: uma parcela prevê que o Copom continue a cortar a taxa de juros em meio ponto percentual; outra parcela estima uma redução do ritmo de corte para 0,25 ponto percentual.
Os argumentos para a manutenção do ritmo atual de corte da taxa Selic são:
Continuação do forward guidance do comunicado da última reunião, que se previa mais um corte de 50 pontos-base.
Melhora da inflação brasileira medida pelo IPCA, com desaceleração da inflação de serviços e núcleos comportados;
Melhor humor externo após indicadores apontarem desaceleração na atividade econômica dos EUA;
Números fiscais melhores do que o esperado no primeiro trimestre.
Já para os defensores de redução da magnitude, os destaques são:
Mudança da projeção de corte de juros do Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA) devido à alta da inflação no início do ano em meio a um mercado de trabalho apertado
Revisão da meta fiscal para 2024 e 2025 pior do que o esperado pelo mercado
Deterioração da expectativa da inflação para o ano que vem
Revisão para cima das projeções de crescimento do PIB brasileiro com um mercado de trabalho forte
Dentro dessa divisão, é importante entender se as recentes declarações do presidente do Bacen, Roberto Campos Neto, estão ligadas com o conteúdo do comunicado e da ata da última reunião.
O Copom sempre reforçou que seu cenário-base exige cautela e, na última ata, reivindicou flexibilidade na condução da política monetária. Embora essa reivindicação estivesse atrelada ao comportamento da inflação interna nos dois primeiros meses do ano, que não se confirmou em março e nos dados preliminares de abril, ela serve como guia para apontar mudanças devido à maior incerteza do cenário externo, que também sempre foi fonte de preocupação do Bacen.
Por isso, Campos Neto deu declarações flertando com a não-continuidade do corte da Selic contratado para maio. E o trecho “em se confirmando o cenário” na parte final do último comunicado, permite ao Copom reduzir o corte para 25 pontos-base nesta reunião, levando a taxa básica de juros de 10,75% para 10,50%.
A sinalização de que números melhores do que o esperado nos últimos dados de inflação não é algo que vá mudar a trajetória da política monetária, cujo horizonte para a sua condução é em 2025. E houve deterioração da expectativa do IPCA do ano que vem no Boletim Focus, saindo de 3,53% há 4 semanas para 3,64% no relatório de projeções divulgado hoje, se distanciando da meta de 3%.
Essa deterioração está ligada à expectativa de um dólar mais forte no mundo com a nova postergação da estimativa do corte de juros do Fed, o que estreita a margem do Copom em reduzir os juros sem deixar o diferencial de juros brasileiros e americanos ainda mais desfavorável à moeda brasileira. Além disso, a redução de superávit primário para meta fiscal zero contribuiu para o aumento do prêmio de risco, concomitante a um hiato do produto ainda mais apertado com revisões altistas do crescimento do PIB.
Restam dúvidas, agora, em relação ao conteúdo do comunicado e da ata do Copom. A decisão não deve ser unânime, e o mercado vai olhá-los com lupa para buscar qual será a taxa terminal do atual ciclo de cortes, cujas estimativas dos principais bancos e corretoras já estão na faixa entre 9,75% e 10,25%, com maior possibilidade de ser no limite superior.
*Leandro Manzoni é analista de economia do Investing.com
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